quinta-feira, 24 de junho de 2021

Queimados, a cidade que fomenta a dor e o descaso

  “Minhas noites são intermináveis, não há remédio que alivie completamente a dor, o tártaro machucou toda minha boca”, o relato é do vendedor João da Silva*, de 53 anos, diabético crônico, morador do São Roque, mas que poderia ser de uma das centenas de pacientes que tiveram seus tratamentos interrompidos porque a Secretaria de Saúde de Queimados, por descaso ou incompetência, não consegue programar o conserto de uma cadeira odontológica do Centro de Especialidade Odontológica (CEO), que funciona no galpão que abriga a sede da Secretaria.

Ter direito a saúde de qualidade é ou deveria ser direito de todo o cidadão de acordo com a Constituição. No entanto, no que depender da Secretaria de Saúde, João e muitos outros continuarão com suas dores intermináveis, porque o município não está nem ligado para eles. Muitos precisando de periodontia especializada.

Dos 13 municípios que compõe a Baixada Fluminense, dez fazem parte do programa federal. Desses dez, apenas Queimados encontra-se com o tratamento interrompido. O município é credenciado desde outubro de 2016. Sem nunca ter sido interrompido por tão longo período.

Para a dona de casa Lurdes Siqueira, 33 anos também diabética, o CEO é a única forma de conseguir fazer o tratamento: “eu não tenho dinheiro para o tratamento, quem vem fazer tratamento aqui são as pessoas com risco maior, do contrário, iriam para os postos de saúdes.” Desabafa Lurdes.

A reportagem ouviu funcionários da Secretaria, que afirmaram que não apenas no CEO os tratamentos estão suspensos, mas também nos postos de saúde. Pode-se entender que a interrupção não seja, portanto, o prosaico motivo de uma cadeira odontológica quebrada.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde, que ainda não respondeu ao blog. O espaço continua aberto.

*O personagem preferiu não se identificar

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