sábado, 12 de junho de 2021

Lampedusa e a esquina moral política no Rio

 Um clássico da literatura publicado em 1958, o romance “O Gattopardo” traduzido como “O Leopardo” é considerado obra-prima  do autor italiano Tomasi di Lampedusa. O livro é a demonstração que a vida e arte se encontram a cada esquina. Impossível não lançar mão de tão atual obra no xadrez político que se desenha pelo estado do Rio.

A saída do deputado Marcelo Freixo, por exemplo, era esperada há algum tempo. Demorou. A gota d’água parece ter sido a reação negativa do partido à doação de empresário ao candidato a vereador por Caxias, Wesley Teixeira.  À época, o candidato recebeu R$78 mil para sua campanha de personalidades como Armínio Fraga, Beatriz Bracher, herdeira do Banco Itaú e João Moreira Salles. Correntes do PSOL disseram que essas doações feririam o estatuto do partido.

Mas isso talvez não seja o motivo principal da troca partidária. O que está em jogo é a possibilidade de a esquerda governar um estado alquebrado por diversas administrações; tem um governador alinhado ao que há de mais atrasado no mundo, que se recusa a responder perguntas sobre um crime bárbaro, como o do menino Henry Borel, a vereadores que investigam o agora preso, mas vereador, doutor Jairinho, que em algum momento fez uma ligação telefônica para o governador Claudio Castro.

Freixo não tinha chance de ser governador pelo PSOL, não porque o partido seja sectário a coligações formal. Nas sombras, continua gravitando na órbita do PT. Mas porque o PSOL é considerado partido da elite, que não suja os pés na Zona Oeste pobre (Barra é outro mundo) haja vista que derrotas sempre vieram de locais mais esquecidos, e as vitórias da Zona Sul.

A literatura, neste caso, se encontra com a política quando Freixo decide-se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Por que não ao PT, já que tem tanta afinidade? Afinal o ex-presidente Lula esteve aqui no Rio para prestigiá-lo.  A realidade é que o PT no estado é fraco. Sempre foi. O melhor seria um partido mais palatável. Aí está a frase emblemática de Lampedusa “Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude.”

A impressão é que a filiação de Freixo foi de “mentirinha”, uma jogada na busca do Palácio Laranjeiras das duas principais lideranças  da esquerda no estado, já que Molon é conhecido como um bom articulador. De quebra, prepara palanque para a possível volta de um desgastado Lula ao poder. No mais: viva Lampedusa.

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