Péricles Gomes: As alterações do clima pedem novas
formas de agir e planejar uma cidade, podem trazer oportunidades para nossa
região que se bem planejadas, trabalhadas e executadas. Pode, de fato resultar em melhorias. Enxergar a infraestrutura urbana e abordar as
mudanças climáticas como um projeto estratégico no contexto urbano é algo extremamente
prioritário. As mudanças climáticas expressam um cenário de incertezas e
preocupações. Algo precisa ser feito para mitigar o problema.
SDC:
Quais seriam as ações para mitigação desses problemas?
PG: AÍ que mora o problema, o município encontra-se
numa inércia ambiental preocupante, creio que desde 2004. Creio que precisamos
começar do zero, novos projetos, mapeando toda a cidade, analisando a
vegetação, nossa hidrografia, aumentando a fiscalização sobre o solo urbano.
Precisamos utilizar geotecnologias tanto nos estudos ambientais e urbanos. Criar ponte entre meio ambiente e urbanismo, estamos atrasados
no que compreende planejamento e politicas públicas. O PMMCQ é uma
possibilidade de planejamento e gestão que possibilita unir todas as
secretárias em prol de um desenvolvimento coletivo, precisamos mudar a cultura
do pensamento que enchente é culpa apenas dos fenômenos climáticos, parece
fácil falar, mas é possível mitigar o problema.
SDC: O
PMMCQ (Plano Municipal de mudanças climáticas no município de Queimados) traria
quais benefícios?
PG: Maior
autonomia para a defesa civil agir na prevenção, Serviços Públicos e Meio
Ambiente, secretarias que precisam trabalhar em conjunto. Temos uma cultura de
dragagem dos rios próximo ao verão ou em períodos de eleições, equivoco. É necessário cuidar, proteger, fiscalizar,
acompanhar nossos rios no dia a dia, não existe mapeamento, estudo geológico
por exemplo do rio abel, proteção de algumas áreas que podem colaborar para amenizar
a velocidade do vento, o melhor escoamento da chuva, melhor conforto térmico.
SDC: Cientistas falam muito em aquecimento global,
qual sua opinião sobre o tema?
PG: Vamos
inserir Queimados neste tema, os eventos climáticos que aqui ocorrem com
frequência, como altas temperaturas, enchentes, nada têm a ver com o
Aquecimento Global, precisamos falar mais de clima urbano, as chamadas
"ilhas de calor, quase tudo que existe na cidade tem origem artificial, a
mudança das características da atmosfera local foram provocadas pela
substituição dos materiais naturais pelos urbanos. O aumento do calor na cidade
altera a circulação dos ventos, a umidade relativa do ar e as chuvas. O
asfalto, concreto das construções, propicia a evaporação rápida da água que
está no solo, reduz o resfriamento. O calor na cidade é mais perigoso do que o
inverno, o Estado do Rio de Janeiro lidera o índice de mortes devido as altas
temperaturas. Precisamos adotar estratégias inovadoras considerando as
inundações como processo natural e antrópico (relativo à ação do homem.)
Soluções sempre precisam ser baseadas em planejamento, mapeamento e tecnologias
em consonância com a natureza local.
SDC:
Então o PMMCQ seria a grande solução?
PG: Não, parte da mitigação dos problemas,
possibilitaria planejamento, projetos e projetos geram recursos para cidade. O
PMMCQ possibilita o governante atrair recursos no médio e longo prazo, tanto em esfera Federal,
Estadual e da própria iniciativa privada, muitas empresas já demonstram
interesse no tema.
PG: Preocupante, venho falando a pessoas próximas que o
novo governo recebeu uma herança maldita, principalmente nas questões
ambientais, somos 76º colocado em avaliação de índice ambiental no estado,
estamos em meio à vulnerabilidade climática ambiental, eventos hidro
meteorológicos intensos e a falta de planejamento e um ambiente que
desconsiderou o espaço em benefício de políticos e particulares. Meio Ambiente
não dá voto, somente choro e insatisfação quando ocorrem as enchentes e
desconforto térmico, desaparecimento de
nossos recursos hídricos e vegetação.
SDC: Qual
sua opinião sobre a canalização do rio Abel?
PG: Resolveram o problema do Centro e transferiu para
periferia, juntamente com o assoreamento do solo, a área do antigo pasto onde se
situa a Vila Pacaembu era a válvula de escape para regressão de enchentes, o
governo à época não levou em consideração isso quando lotearam o lugar, não
houve preocupação com escoamento, sustentabilidade. A canalização do rio Abel
custou caro, com material de péssima qualidade. O alargamento e a canalização foram
obras caríssimas e ineficazes, gerou impactos negativos à biodiversidade hídrica,
agravou o assoreamento, diminuiu a seção de escoamento fluvial, começando na
ponte que liga a Vila Pacaembu ao São Roque, potencializando os problemas nas
áreas periféricas da cidade. Também existe a questão das ocupações às margens
do rio, tamponando o escoamento fluvial. A obra gerou um efeito de forte
obstrução ao escoamento fluvial nos períodos de chuvas intensas. Pensaram na
obra sem levar em consideração a geologia e o clima da Baixada Fluminense.
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